O engenheiro sanitarista desempenha um papel essencial na promoção do desenvolvimento sustentável, na preservação do meio ambiente e na melhoria da saúde pública. Por isso, é uma profissão cada vez mais valorizada e demandada no mercado de trabalho.
Como o Dia do Engenheiro Sanitarista é celebrado em 13 de julho, a Sondotécnica entrevistou a engenheira Márcia Rajão, que falou sobre sua carreira, o mercado de trabalho e como enxerga o uso de novas tecnologias nos projetos de saneamento básico. É inspirador ver como esses profissionais contribuem para a qualidade de vida e o bem-estar da sociedade por meio de seu trabalho. Confira a entrevista.
O que a motivou a escolher a Engenharia de Saneamento como carreira? Alguém a influenciou?
Na verdade, não escolhi essa área, foi circunstancial. Minha formação é em obras civis. No entanto, em 1986, um professor da faculdade me perguntou se eu queria fazer um estágio no setor de obras hidráulicas da empresa onde ele trabalhava, que na época incluía a área de saneamento.
No início, a demanda maior era por projetos de irrigação, devido ao Governo Sarney, que lançou um programa muito ambicioso para implantar, durante seu mandato, 1 milhão de hectares de irrigação. Esse programa foi apenas parcialmente implementado.
Posteriormente, novos governos se sucederam e, sem que eu possa precisar exatamente em qual deles, a área de saneamento passou a ser uma prioridade, devido à fragilidade dessa infraestrutura no país. Não lembro bem, mas foi até criado um plano nesse sentido, bastante ambicioso também. Assim, surgiram muitos projetos de engenharia nessa área, mobilizando uma grande parte das empresas de consultoria. Nesse momento, surgiu então a oportunidade de me envolver em vários desses projetos, despertando em mim um interesse muito firme por esse segmento da Engenharia.
Como é um dia típico de trabalho de uma engenheira sanitarista na Sondotécnica?
É igual ao de qualquer outro especialista da empresa que tenha comprometimento com seu trabalho. Os desafios que o trabalho exige, a troca de experiências com o grupo para encontrar a melhor solução para os problemas em que estamos envolvidos, o atendimento às exigências do cliente, a transmissão de experiência aos colegas mais jovens, o cuidado na obediência aos prazos contratuais que comprometem o desempenho da empresa para a qual prestamos serviços e, finalmente, a satisfação de realizar um trabalho bem aceito pelo cliente.
Quais habilidades e conhecimentos você considera essenciais para os engenheiros que desejam se especializar na área de saneamento?
De maneira geral, além de uma boa base nos fundamentos da Engenharia, são necessários sólidos conhecimentos de hidráulica, projeto de estruturas hidráulicas e seleção de materiais, como tubulações e dispositivos de operação e controle dos sistemas, tanto para abastecimento de água quanto para a operação de redes coletoras e estações de tratamento. Cada projeto representa um novo desafio, por isso é importante o constante aprimoramento na busca de novos conhecimentos.
Qualquer complemento em cursos de extensão é sempre bem-vindo, além da busca por leituras e artigos técnicos específicos da área de saneamento para se manter atualizado com as novidades técnicas. Hoje, vivemos uma época de muita tecnologia, que tem melhorado significativamente o desenvolvimento dos trabalhos e proporcionado mais garantia aos resultados esperados. No entanto, isso exige uma análise detalhada para determinar com segurança até onde tais sistemas podem auxiliar no que se pretende.
Como ocorre a colaboração entre o engenheiro sanitarista e profissionais de outras disciplinas nos projetos da empresa?
Os projetos de saneamento não envolvem apenas Hidráulica e Processos; incluem também disciplinas como Mecânica, Estrutura, Elétrica e Automação. Isso torna necessária a integração desses profissionais no desenvolvimento dos estudos e projetos.
Embora o foco seja o projeto de saneamento, as outras disciplinas mencionadas fornecem suporte ao objetivo maior do projeto. Esse apoio e a troca de experiências entre as áreas podem ocorrer ao longo do desenvolvimento do projeto ou mais na fase final, como é o caso da área de cálculo estrutural. No entanto, isso não significa que a participação dessas disciplinas não esteja presente durante todo o desenvolvimento do projeto.
Na Sondotécnica, temos o privilégio de contar com muitos especialistas setoriais no quadro de funcionários permanentes, algo que nem sempre ocorre em outras empresas de projetos. Isso facilita a interface de desenvolvimento dos projetos, permitindo um intercâmbio de ideias muito rápido, já que todos estão imbuídos dos mesmos objetivos. Essa diferença, conforme mostra a experiência, é mais favorável do que a necessidade de subcontratar.
Sempre foi um privilégio dos “Sondotecnianos” ter esses especialistas como parte do corpo fixo da empresa.
Quais são os principais desafios enfrentados atualmente nos projetos de saneamento da Sondotécnica?
A Engenharia de Projetos é talvez um dos segmentos que mais sofre com a instabilidade política e a falta de investimentos no setor de Infraestrutura no país. Como o saneamento percorre, na sua implantação, caminhos subterrâneos, nem sempre visíveis pela elite dirigente, foi frequentemente esquecido nas políticas públicas.
Hoje, temos um documento governamental que procura universalizar o saneamento no país, o que é um grande passo para recuperar o atraso acumulado. Esse plano já está em andamento e tem gerado um estímulo a todos que atuam nessa área, resultando em uma maior demanda por contratos envolvendo empresas de projetos.
Devido ao longo período sem projetos nessa área, é natural que o mercado de mão de obra tenha sofrido uma grande retração. Agora, já começamos a sentir a falta de profissionais qualificados para atender à crescente demanda.
Quais são as principais tendências e inovações no setor de saneamento que você acredita que terão um impacto significativo nos próximos anos?
A tecnologia é uma grande aliada nos avanços de serviços de qualquer natureza. Especificamente no saneamento, temos vivido uma significativa evolução tecnológica em processos de tratamento e no uso de softwares avançados.
O uso de softwares de modelagem hidráulica foi um grande avanço tecnológico para as empresas concessionárias e projetistas. A Sondotécnica utiliza essas ferramentas desde o ano 2000. No início, encontrávamos muita dificuldade em encontrar usuários de outras empresas para discutir o produto, suas principais vantagens e o uso correto da ferramenta. As empresas projetistas não usavam essas ferramentas, e algumas concessionárias estavam começando a utilizá-las. Hoje, o uso dessas tecnologias se disseminou, permitindo prever e otimizar o comportamento dos sistemas de água e esgoto, melhorando sua eficiência e reduzindo as perdas.
A redução de perdas e a prevenção de desperdícios continuam sendo os grandes desafios das concessionárias. Os custos de energia para a movimentação dos equipamentos de processos de tratamento, bombeamento, entre outros, são os grandes vilões.
Na minha visão, a incorporação cada vez maior de fontes de energia renovável e a redução dos custos operacionais também contribuirão para a sustentabilidade ambiental. Investir em processos de tratamento que retornem energia será crucial para o futuro.
Como a Sondotécnica está incorporando novas tecnologias e práticas sustentáveis nos seus projetos de saneamento?
A incorporação de novas tecnologias e práticas sustentáveis nos projetos é muito solicitada pelos clientes. Essa premissa tem sido perseguida pela empresa em seus projetos. No entanto, para que isso seja efetivo, os clientes também precisam se atualizar para possibilitar um intercâmbio de melhores soluções, que sejam mais facilmente absorvidas e aceitas por eles.
Nós, como técnicos, nos mantemos atualizados sobre essas inovações e as propomos, mas a decisão de aplicação é deles.